sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Vai uma lenda de Anansi ae?


Anansi é simplesmente um dos mais importantes deuses/heróis da cultura afro-americana, sendo ao longo do tempo difundido através de muitas lendas na América do Norte e América Central. Sua aparência em grande parte dos contos é a de uma aranha com traços de homem, em algumas lendas aparece como mulher e em outras formas. Os nomes de suas histórias e dos personagens variam de acordo com as culturas. Acredita-se que sua origem vem diretamente das tribos Ashanti, sendo depois espalhada pelos grupos Akan e por fim se aderindo à cultura dos índios americanos.

Muitas lendas atribuem à Anansi a criação do Sol, da Lua e das estrelas, o ensino da agricultura e até a tentativa de prender toda a sabedoria do mundo dentro de uma cabala! Uma característica inclusa em todas suas lendas, e que talvez marque tanto Anansi, é o fato dele simplesmente conseguir enganar a todos, resolvendo facilmente seus problemas através da lábia e da sua esperteza. Algo que de longe, bem de longe, lembra até nosso querido Saci Pererê. Uma célebre história, nomeada de O Baú de Anansi, conta como Anansi se tornou o detentor de todas as histórias do mundo.

Certa vez, quando já não tinha mais histórias para contar na Terra, Anansi teceu uma longa trama que ia do solo até alcançar o céu. Lá se dirigiu à um castelo, tendo em vista compras as histórias guardadas em uma urna de ouro pelo deus do céu Nyankonpon. Ao entrar, todos ficaram paralisados, pois muitos conheciam as histórias de Anansi, mas nunca tiveram a oportunidade de vê-lo. Porém, quando avisou qual era seu intuito, todos se postaram a gargalhar! Nyankonpon riu e zombou do desejo de Anansi, mas lhe propôs um acordo: Anansi teria de levar até o castelo Onini, a grande jibóia; Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro, as vespas que picam como fogo e por fim Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Até aquele momento, nenhum homem conseguiu realizar tais provas, mas Anansi não se intimidou e ofereceu além de completar esses desafios, sua própria mãe.

De volta à sua casa, Anansi, com o auxílio de sua mulher Aso, se pôs a pensar em como realizar essas provas. Chegou na conclusão em como capturar Onini, para isso teria de ter um galho de palmeira e um pouco de trepadeira, assim os dois se dirigiram para o riacho onde Onini costumava se banhar. Próximos dela, ficaram discutindo se "o galho era ou não do tamanho de Onini"; o plano deu certo, pois curiosa, Onini fez questão de ir auxiliá-los com essa questão, deitando-se sobre o galho. Anansi não perdeu a oportunidade e a prendeu com a trepadeira.

Novamente, Aso ajudou Anansi à chegar em um resposta para capturar dessa vez as vespas. Anansi, com uma folha de bananeira e um cabala cheia de água, aproximou-se das Mmboro; aproveitamento um momento de distração dessas, atirou todo o conteúdo da cabala para o alto, colocou a folha sobre a cabeça e gritou "Venham, venham! Está chovendo e vocês se ficarem aí, vão molhar suas asas, entrem aqui nesse abrigo!". Nem preciso dizer que o "abrigo" era a cabala que Anansi tampou com a folha de bananeira.

No caso da captura de Osebo, o leopardo, bastou à Anansi cavar um buraco, tecer uma teia bem forte no fundo dele e depois tapá-lo com folhas, pois assim no dia seguinte Osebo já estava lá preso. Agora faltava apenas Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Depois de pensar muito, achou um galho caído por um raio e teve uma brilhante idéia. Pediu para Aso preparar o mais delicioso mingau de mandioca, enquanto isso talhou um boneco de forma humana com o galho achado. Anansi se dirigiu então para o local onde sabia que o espírito apareceria para dançar, lá colocou o boneco juntamente do prato com mingau, mas não antes de cobrir o boneco com um líquido pegajoso.

Mmoatia, depois de um tempo, apareceu e encontrou o estranho boneco com um saboroso prato de mingau. Irritado com o fato do boneco não lhe oferecer o petisco, Mmoatia deu um tapa em sua cabeça, mas acabou ficando com a mão presa! Deu outro tapa e ficou mais preso ainda; por fim com um chute derrubou o prato de mingau, que tanto queria, e ficou tão grudado que não conseguiu mais se soltar. Anansi então juntou todas suas capturas e foi buscar sua mãe. No dia seguinte tramou uma nova teia entre o solo e o céu e foi buscar seu prêmio.

O deus Nyankonpon ficou muito surpreso com a capacidade de Anansi, pois ele não passava de um jovem miúdo e fraco. Com muito gosto então lhe concedeu a urna de ouro, onde todas as histórias do mundo estavam guardadas. Anansi, de volta à sua aldeia, dividiu então essa e todas outras histórias com o resto do mundo.

Já aviso que existem muitas outras versões dessa história. Hoje em dia Anansi se tornou largamente uma influência para a cultura em geral, o escritor Neil Gaiman, por exemplo, apresentou o Sr. Nancyem seu livros Deuses Americanos e Filhos de Anansi. Rolou até uma aparição dele em um episódio do Super Shock, hahahaha. Espero que tenham gostado, até a próxima.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O diretor não é o dono do grupo!

     O diretor não é o dono do grupo, isso é simples, mas para pessoas que não fazem parte do meio teatral o diretor será o dono, isso não se criou da noite para o dia, foram durante décadas e até hoje as ditaduras de diretores em Cias teatrais, na maioria das vezes resumindo atores a simples marionetes, "Dario Fo" exemplifica isso em seu livro "Manual mínimo do ator": 


      " Subi ao palco e o cobri de elogios: 'Bravo! estupendo! Você entendeu inteiramente o jogo implícito em cada cena de denúncia impiedosa à lógica do poder, especialmente a menção histórica ao personagem de   Ana Bolena com suas manobras criminosas, de política torpe, sugerindo, inclusive, o tempo presente, pleno de crueldade, infâmia e cinismo. Felicito particularmente sua atitude de submissão, a postura quase curvada diante de sua mulher, Lady Macbeth. Existiu também um bom trabalho de entendimento do diretor'... o famoso e extraordinário ator observou-me com os olhos arregalados:
     'Quando?'
     'Como assim quando?'
     ' A alusão à realidade histórica... Eu curvado, submisso à Lady Macbeth... Isso tudo aconteceu em que momento?... Você está completamente equivocado, eu nunca tive essa intenção.'
     'É claro que você teve! Vê se tão bem!'
     Nesse instante, como um bom fanático, comecei a mostrar-lhe todas as passagens alusivas que eu havia percebido tão claramente. revelei-lhe todas as situações paralelas, as referências, até mesmo as óbvias, que não precisavam ser evidenciadas, pois levitavam por si mesmas do texto. Demonstrei-lhe como uma passagem tinha sido propositadamente cortada para o desenvolvimento de outra. quando eu estava no ápice da empolgação, escutei a voz tonitruante do diretor, revelando um sério antagonismo para com a minha pessoa: 
    'Eu te mato Dario!'
    'Por quê? o que foi que eu fiz?'
    'Venha comigo - sussurrou em meu ouvido, carregando-me para longe do ator - agora como é que eu fico?'
    'Não estou entendendo.'
    'Você está louco! Você revelou-lhe o que ele estava fazendo, deixando-o em crise! Amanhã ele não vai conseguir dizer mais nenhuma palavra com sentido lógico!' "¹


     Esse trecho deixa claro essa questão de mesmo atores considerados bons costumam ser manipulados, muitas vezes se rebaixando ao nível intelectual de micos amestrados, os diretores os deixam a parte de toda questão ideológica do espetáculo, tomam todo o controle como antigos donos de circo que tratavam animais e artistas quase do mesmo modo.
     Quando perguntamos o que se precisa para acontecer teatro, a resposta na maioria das vezes é ator e platéia e em alguns casos de teatro ritual até a platéia desaparece se tornando todos atores. Hoje estamos em outros tempos a cada vez mais grupos que pregam a descentralização do poder do diretor em um grupo de teatro, processos de montagem como o "Processo de criação coletiva" extingue quase que totalmente a figura do diretor teatral descentralizando as funções para todo o grupo, tornando o processo anarquista onde não se encontra um dominador teatral que impõe seu ponto de vista como imutável e temos também o "Processo colaborativo" onde apesar da volta da figura do diretor teatral dentro do grupo essa figura não tem mais o poder que tinha antes e as funções são flutuantes podendo ser mudadas de acordo com espetáculo, todos que se sentirem capazes podem pleitear o cargo de diretor ou qualquer outro dentro do grupo,nesse processo o diretor não manda manda nas funções dos outros como iluminação por exemplo, ele pode propor mudanças, mas não impor sua vontade ele manda tanto no grupo quanto o cenógrafo, o ator, o sonoplasta e qualquer um que participe do processo.
    Mas qual é realmente a função do diretor? Muitos chamam o diretor de primeiro espectador, o trabalho dele é assegurar a qualidade teatral, conjugando todos os esforços da equipe, incentivando a produção, trazendo propostas para criação de cenas e junto com o dramaturgo pensando as uniões textuais e de cenas para construção do espetáculo.


1- FO, Dario. Manual mínimo do ator. ed Senac, pag 104





quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tudo tem um começo

     Esse é decididamente o início deste blog, aqui nesse espaço vou falar sobre direção teatral, escrever sobre diretores brasileiros e de outros países, entrevistar diretores de teatro e etc, mas o principal será acompanhar, sugerir e construir um trabalho de direção por meio de um processo colaborativo com a "Trupe por um Fio". Desde da formação do grupo vinha sendo utilizado o processo de criação coletiva, mas agora depois de mais de um ano de trabalho resolvemos dar um passo e passar para o processo colaborativo. Estamos montando "Anancy" provavelmente o último espetáculo com o método de criação coletiva.
    "Anancy" é um espetáculo próprio da "Trupe por um Fio". "Anancy" narra à saga de Anancy, um homem frágil, porém muito astuto que tem como missão derrotar e capturar Osebo o homem leopardo, Umboro os marimbondos que picam fogo e Mmoatia a  fada nunca vista pelos homens. Um espetáculo construído através de linhas de pesquisa que se utiliza de pirofagia, dança acrobática e percussão corporal para resgatar essa lenda africana que conta como surgiram as historias. Espetáculo esse construído através de pesquisas do grupo em diversos campos e de processos de criação coletiva, quase entrando no processo colaborativo.